CLARA BALBI
Da Folhapress - São Paulo
Nas redes sociais, empatia parece ser a palavra da vez. Isso porque as medidas de distanciamento adotadas por vários países para combater a Covid-19 só são efetivas se aqueles que não fazem parte do grupo de risco, como os jovens, também deixarem de lado o convívio social.
Uma das maneiras de exercitar a empatia é assistir a documentários autobiográficos.
A ideia dessas obras que voltam a câmera para a vida de seus próprios diretores, pode não parecer muito revolucionária na era das selfies e redes sociais. Mas, se o universo online está cheio de imagens posadas, nestas produções os cineastas não temem o julgamento alheio. É isso que faz com que sucedam na tarefa de filtrar o mundo pelas suas próprias lentes.
Dos cinco filmes listados, três são brasileiros - entre eles, um documentário de Petra Costa, que teve o seu "Democracia em Vertigem" indicado ao último Oscar. É uma lembrança de que se por no lugar do outro começa no próprio quintal.
Disponível no Netflix
Adolescente, a cineasta Petra Costa se viu refazendo os passos da irmã, Elena, que tinha se suicidado quando a diretora era criança. "Elena", seu documentário de estreia, é, assim, um delicado acerto de contas com o fantasma da personagem-título. Quem gostou de "Democracia em Vertigem", filme da diretora que concorreu ao Oscar de documentário neste ano, vai perceber as muitas semelhanças entre os títulos. Quem não gostou pode aproveitar para dar uma chance à diretora num terreno menos polarizado. O lançamento oficial será no dia 29 Disponível na Netflix
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A atriz e diretora Sarah Polley (de "Longe Dela") sempre ouviu que não era parecida fisicamente com o pai. Mas, ao investigar a vida da mãe, morta quando ela era pequena, descobre que é grande a chance de ser filha de outra pessoa. Polley entrevista família e amigos próximos da mãe para juntar pistas sobre o pai biológico. Mais do que uma trama de mistério, porém, esta é uma meditação sobre como as memórias nascem.
DVD disponível para compra no site do IMS por R$ 44,90
Mais de dez anos se passaram até que o documentarista João Moreira Salles confrontasse as entrevistas que fez com Santiago Badariotti Merlo, mordomo de sua família por 30 anos. Quem assiste a "Santiago" entende o motivo. Nos bastidores, o diretor interrompe o mordomo aposentado, pede que ele fale mais rápido. O trunfo desse filme é justamente mostrar o que acontece antes e depois do "corta". É a partir desses momentos que o diretor tece uma reflexão sobre o fazer cinematográfico e a própria experiência, tão honesta quanto redentora.
Disponível para compra (R$ 9,90) ou aluguel (R$ 4,90) no iTunes brasileiro
Em "Os Catadores e Eu", uma Agnés Varda septuagenária posa com ramos de trigo, simulando as tantas pinturas do tipo na história da arte europeia. Então, larga os ramos, apanha uma câmera de vídeo digital e a aponta para os espectadores. A imagem é simbólica da trajetória da cineasta - só depois daquele filme, Varda, morta aos 90 anos no ano passado, ainda realizaria outros três documentários, costurando com maestria a própria vida com o mundo ao redor. Um deles é "Visages, Villages". Ao lado do artista de rua JR, ela roda a França em busca de, como diz o título, rostos e cidades. Os cinéfilos ainda ganham um presente - Godard, colega de Varda na nouvelle vague, faz, digamos, uma participação especial.
A premissa deste filme é, a princípio, simples - ele acompanha a tentativa da diretora Sandra Kogut de tirar um passaporte da Hungria, país onde seus avós nasceram e do qual fugiram na Segunda Guerra. Mas a aparente banalidade acaba numa labirinto burocrático digno de Kafka.
Kogut revela pouco sobre si, coisa rara nos documentários autobiográficos. Aqui, o que vale é a sutileza com que ela explora as noções de identidade nacional.
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